Artigo escrito por
Marco Antonio Oliveira Neves, Diretor da Tigerlog Consultoria e Treinamento em
Logística Ltda.
O
transporte tem como finalidade primária equalizar o diferencial espacial e
econômico entre oferta e demanda, ou seja, tem como missão principal aproximar
mercados.
Sem
um transporte adequado, empresas e nações perdem competitividade, comprometendo
a viabilidade econômico-financeira de seus produtos e serviços.
Embora
o Brasil apresente dimensões continentais que justificassem a utilização do
modal ferroviário e aquaviário em larga escala principalmente nas médias e
longas distâncias, somos um país com predomínio de transporte rodoviário de
cargas, muito em função da priorização dos investimentos realizados pelo setor
público nas últimas décadas, mas também por outros fatores como a falta de
regulamentação do setor, excesso de oferta e pela incapacidade dos outros
modais de realizar um bom atendimento aos Clientes.
Por
que falar então em enfraquecimento do TRC se o modal rodoviário responde por
aproximadamente 65% do total movimentado no Brasil?
Vários
são os fatores que estão levando à "perigosa" deterioração do setor
de transporte rodoviário de cargas no Brasil.
Um
deles é a total ausência do poder público no desenvolvimento e atualização da
infraestrutura de transporte. Na última década foi investido uma média de
(apenas) 0,20% do PIB ao ano, enquanto que outros países em desenvolvimento
direcionam cifras equivalentes a 5% a 10% do PIB a cada ano. Não precisaríamos
de uma Copa do Mundo ou Olimpíadas para justificar tais investimentos; isso
deveria ser um "dever de casa" dos órgãos públicos, para garantir a
expansão econômica do país, alicerçada em custos competitivos, alta
produtividade e serviços diferenciados. E não faltam recursos para tal; apenas
a CIDE (Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico) arrecadou mais de R$
70 bilhões entre 2002 e 2011, porém menos de 25% disso foi efetivamente
investido na infraestrutura de transportes.
As
condições precárias das estradas brasileiras afetam diretamente os custos e o
nível do serviço prestado pelo setor de transportes. Pesquisa da CNT aponta que
estradas em estado de conservação ruim geram um acréscimo de mais de 65% nos
custos operacionais; se péssimo, vai a mais de 91%! Enquanto que a UPS, a DHL e
a Fedex entregam mercadorias em até 48 horas em mais de 200 países do mundo a
partir dos Estados Unidos e da Europa, no Brasil precisamos do mesmo prazo para
entregar de uma cidade a outra, dentro de um raio de 500 km.
A
falta de regulamentação do mercado de transportes também afeta o nível de
competitividade do setor, pois leva ao "nivelamento" das empresas por
baixo. Mesmo com a nova lei que trata da jornada de trabalho do motorista
profissional (lei 12.619), ainda faltam eficientes mecanismos de controle para
viabilizar uma evolução qualitativa do setor. A verdade é que existem poucas
barreiras para novos entrantes no mercado, mas muitas barreiras para a saída.
Com a grande quantidade de empresas no mercado, a maioria de micro e pequeno
porte, reduzimos o poder de barganha das Transportadoras ao negociar com seus
Clientes.
Também
não contamos com uma política pública para a administração da idade da frota
dos veículos de carga no Brasil, que hoje é superior a 16 anos, enquanto que
especialistas do mundo todo pregam valores próximos a 8 anos.
A
dinâmica do mercado e do relacionamento entre Embarcadores (tomadores de frete)
e Transportadoras também preocupa. As relações ganha-perde, quase que sempre a
favor do contratante do serviço, acarretam em desvantagens financeiras para as
Transportadoras. A verdade é que a maioria delas sequer tem condições de
custear os serviços prestados e acabam utilizando "parâmetros" de
mercado para estabelecer a sua política de preços. É muito comum as
Transportadoras aplicarem descontos irracionais sobre as tabelas de fretes
praticadas por seus concorrentes, sem qualquer análise prévia. Muitos
compradores de fretes, adotando posturas "terroristas", aproveitam-se
dessa situação para ganhar (ou melhor seria tripudiar?); essa atitude,
unilateral e egoísta, aliada à falta de preparo do lado oposto, contribui de forma
decisiva para a involução do mercado.
Por
fim, temos a questão da produtividade operacional. Os altos tempos de carga e
descarga, aliados às intermináveis (e caras) esperas derrubam o nível de
aproveitamento dos ativos operacionais. Embora os custos fixos estejam
"instalados", as receitas geradas por cada veículo individualmente
são cada vez menores. Perigosa combinação, não?
Perigoso
também é o roubo de cargas no Brasil, que vem aumentando ano a ano, levando as
Transportadoras a terem que adotar Programas de Gestão de Risco (PGR) cada vez
mais sofisticados e caros. E quem paga essa conta? Parte dela é remunerada
pelos Embarcadores através do % GRIS, mas parte não, sendo absorvida pelo
próprio Transportador.
Como
quebrar esse ciclo vicioso que colabora diretamente para a comoditização do
mercado? Como reverter o efeito nocivo que corrói a rentabilidade do setor de
transportes, que necessita obrigatoriamente de retorno financeiro para o
contínuo reinvestimento em frota, terminais, tecnologia, capacitação e retenção
de pessoal, etc.? Se não quebramos esse ciclo, ele se encarregará de quebrar as
Transportadoras.
Esse
processo, lento e silencioso, está contribuindo para a destruição de uma
atividade econômica altamente estratégica para o Brasil. Sem uma indústria forte
no setor de transportes, o frete encarecerá as mercadorias de forma a tornar
inviável a atuação do Brasil no mercado internacional, principalmente na
exportação de commodities.
Já
faltam motoristas. Em breve também faltarão empresários interessados em investir
no setor. Será que inventarão o teletransporte a tempo de evitarmos as graves
consequências de um setor falido e incapacitado para prestar um serviço
adequado?
Segue nossa programação de treinamentos para o mês de Julho e Agosto/2012
- 14/07 Excelência na Gestão de Almoxarifados, das 8h as 17h, local Mercure Privilege São Paulo - SP, Investimento 600,00;
- 02/08 Lean Logistics Six Sgima aplicado a Armazéns, das 8h as 17 h, local Novotel Ibirapuera, São Paulo - SP, Investimento 600,00;
- 06 e 07/08 Gestão das Empresas de Transporte de Cargas, das 8h as 20h, local Novotel Ibirapuera, São Paulo - SP, Investimento 1.500,00;
- 13 e 14/08 Excelência na Gestão Financeira das Empresas de Logística e Transportes, das 8h as 20h, local Mercure Privilege, São Paulo SP, Investimento 1.500,00;
Maiores informações acesse www.tigerlog.com.br em Agenda de Treinamentos ou através do e-mail treinamento@tigerlog.com.br