terça-feira, 28 de setembro de 2010

Artigo: Embarcador prepare-se para colocar a mão no bolso em 2011

Artigo escrito por Marco Antonio Oliveira Neves, Diretor da Tigerlog Consultoria e Treinamento em Logística Ltda

Dizem que depois de uma tempestade vem a bonança. Mas e depois de um longo período de tranqüilidade, o que vem por aí? Parece que a vida dos Embarcadores não será mais a mesma. O próximo ano deverá ser marcado por significativas revisões nos preços dos fretes praticados. Você ainda não está preparado para isso? Então, trate de prever os reajustes de seus custos no orçamento que a sua empresa está elaborando!

Analisando o INCT-F – Índice Nacional do Custo de Cargas Fracionadas, que leva em consideração os custos fixos e variáveis com coletas, entregas, terminais e transferências, o índice de reajuste acumulado entre 1995 e 2009 é de mais de 300%, logo, o frete de carga fracionada, conhecido como frete peso, deveria ser multiplicado por TRÊS nesse período. Isso ocorreu? Apenas em 2010, o INCT-F já aponta para um reajuste de 6 %.

Nos últimos 10 anos, o INCT-L – Índice Nacional do Custo de Cargas Lotação apresentou uma variação entre 207,7% e 229,9%, dependendo da faixa de distância, indicando que os fretes de carga fechada deveriam ter sido multiplicados por mais de DUAS vezes nesse período.

Na prática, nenhuma Transportadora conseguiu repassar esse aumento para seus Clientes, portanto, existem perdas passadas que precisam ser recuperadas.

Começamos pelo diesel, o principal custo para a maioria das operações, principalmente aquelas de média e longa distância. De 1995 a 2009 o diesel foi reajustado em mais de 500%, e sendo ele responsável por cerca de 30% dos custos totais de transportes, isso por si só representaria um aumento do frete em 150% ao longo desse período! Veja a tabela abaixo:


Embora o preço do diesel esteja estagnado desde meados de 2009, ele deverá ser reajustado em 2011. Difícil estimar quanto.Vamos entender o porquê disso.

No início da década de 80, com a segunda crise gerada pelo petróleo, a dependência externa brasileira do produto atingiu seu auge, fazendo com que cerca de 80% das necessidades de consumo fossem importadas, representando divisas superiores a US$ 11 bilhões; naquela época a produção da Petrobras atingiu um pouco mais de 180 mil barris de petróleo por dia. Vinte anos depois, vivemos outro cenário: atingimos a auto-suficiência em 2006, e se confirmado o potencial das jazidas de pré-sal, o Brasil poderá se tornar um dos dez maiores exportadores de petróleo do mundo, chegando em 2013, a produzir 2,6 milhões de barris por dia.
Atualmente, a Petrobras extrai cerca de 2 milhões de barris diários, sendo que boa parte do óleo explorado no país é pesado, com qualidade inferior a de outros locais e precisa ser misturado ao produto mais leve, comprado de outros países a preços mais elevados. O parque de refino brasileiro não tem capacidade para processar todo o combustível e nafta utilizados no país, sempre existindo a necessidade de importação de um produto cujo preço médio é mais elevado que o brasileiro. Por isso, o Brasil ainda deverá registrar déficit de US$ 4,5 bilhões na balança comercial de petróleo e derivados; em 2009 o déficit foi de US$ 3,3 bilhões.

A Petrobras corre atrás da modernização de suas refinarias para melhorar a qualidade dos produtos e processar mais óleo nacional. A Petrobras está investindo para que sua produção atenda a toda demanda nacional. São investimentos na adequação e na expansão do parque de refino ao perfil de consumo nacional. Esses investimentos devem ser realizados de forma contínua, para que a demanda crescente seja suprida sistematicamente pelos anos posteriores.

O crescimento da economia brasileira, que nesse ano deve alcançar cerca de 7%, está impulsionando o consumo de derivados de petróleo, com destaque para o diesel, usado pelos caminhões, que respondem por cerca de 60% do transporte de cargas. O setor de transportes é responsável por mais de 75% do total de diesel consumido no Brasil; o segmento agropecuário e a indústria de transformação respondem pela parcela restante.

A recuperação econômica dos EUA, Japão e Europa, associada ao crescimento de Brasil, Rússia, Índia e China, Rússia (BRICs) e de outros países (Vietnã, Malásia, Filipinas, Cingapura, etc.) poderá elevar o preço do barril do petróleo. Recentemente, tanto o JP Morgan e Barclays cortaram suas expectativas em relação aos preços do petróleo para 2011, em razão das incertezas sobre a recuperação da econômica mundial. O Barclays, que projetava preço de US$ 82 para este ano e de US$ 92 para 2011 para o barril negociado nos Estados Unidos, cortou suas estimativas, respectivamente, para US$ 78 e US$ 85. Já o JP Morgan reduziu sua projeção de US$ 90 para US$ 79, 25 para a cotação de 2011.

Como os preços domésticos da gasolina e do óleo diesel não seguem de perto o mercado internacional e não há uma regra explícita para os reajustes, fica difícil estabelecer uma relação entre preços internos e externos.

Mesmo que o preço do petróleo não se altere no mercado mundial, o novo presidente (ou presidenta) deverá promover um reajuste visando recuperar as defasagens reclamadas pela Petrobrás. Além disso, medidas impopulares sempre são tomadas no início de cada mandato; em janeiro de 2002, fim da era FHC, o diesel tinha um preço de R$ 0,868/litro, e em janeiro de 2003, início da era Lula, o diesel custava R$ 1,507/litro! E por fim, não podemos esquecer que a Petrobrás investirá mais de US$ 100 bilhões nos próximos anos na exploração do pré-sal, portanto, qualquer aumento no preço de seus produtos será bem vindo. Ele pode vir na forma de conta-gotas ou em uma ou duas parcelas significativas em 2011 e 2012.

O aquecimento da economia deverá resultar no aumento do preço das matérias-primas necessárias para a fabricação de autopeças, no qual se destaca o aço, que registrou um aumento de 35% no primeiro semestre deste ano. A incapacidade dos Fornecedores no atendimento do mercado também poderá afetar a relação entre oferta e demanda, acarretando no aumento de preços. Portanto, deveremos ter um forte impacto sobre os custos com a manutenção dos veículos.

E o que falar dos pneus? O Brasil só produz um terço da borracha que consome, o restante é importado da Ásia. O preço da borracha triplicou no mercado internacional diante da demanda mundial pelo insumo. No primeiro semestre deste ano, as empresas compraram 7,0 milhões de pneus para equipar cerca de 1,5 milhão de automóveis produzidos. Somente a produção de caminhões aumentou 53% no primeiro semestre. A dificuldade no atendimento das vendas devido ao aumento na produção e falhas no planejamento, associada ao aumento do preço do insumo, fez com que o preço dos pneus aumentasse. Em apenas um ano, o preço dos pneus subiu em média 15 %, três vezes o índice da inflação no mesmo período.

Por fim, temos os motoristas. Estimamos um déficit de cerca de 120 mil motoristas no Brasil. A falta de profissionais deverá levar a um aumento nos salários, na tentativa de atrair novas pessoas para a função. Soma-se a isso o reajuste anual ou dissídio salarial, que deverá variar entre 5% a 10% em 2011.

Portanto, estamos falando de um reajuste ao redor de 10% para 2011, num cenário de forte demanda por serviços de logística e transportes. As Transportadoras e os Operadores Logísticos estão ávidos por recuperar perdas passadas, por isso, prepare-se para colocar a mão no bolso!

Nova edição da MundoLogística - Decisões Sustentáveis em projetos de Supply Chain

Maiores informações acessem:

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